CIRCUNCISÃO
Aqui vocês encontrarão informações sobre as razões históricas e religiosas do Brit Milah (o famoso “Bris”), os preparativos para o grande dia e instruções para o pós-operatório da circuncisão. Mazal Tov a vocês e a toda sua família pelo nascimento (ou futuro nascimento) de seu filho. Não há nada mais emocionante do que a chegada de um recém-nascido, uma mudança de vida!
Aspectos religiosos
Brit Milah (Bris) é uma das cerimônias mais antigas do judaísmo, o pacto de Abraão com D`us – o Pacto da Aliança. Todos os pais judeus têm a obrigação (mitzvah) de circuncisar seus filhos no 8o dia após o seu nascimento, conforme está escrito na Torah (Genesis 17:10) ou designar um representante para fazê-lo em seu nome. É isto o que acontece durante a cerimônia conhecida como Brit Milah, geralmente realizada por um mohel, profissional devidamente capacitado para isto. O Brit Milah é talvez o ritual mais importante do judaísmo. O Brit Milah é descrito como a promessa feita por D’us que garante a continuidade do povo judeu.
O Brit Milah deve acontecer no oitavo dia após o nascimento do bebê, mesmo que isso ocorra num Shabbath ou até mesmo em Rosh Hashaná ou em Yom Kippur. Assim, se uma criança nasce numa terça-feira, até as 18h, seu Brit Milah deverá ocorrer na terça-feira seguinte e assim por diante. Existem caso específicos para nascimentos ocorridos de parto cesáreo: se isto acontece por exemplo num Shabbath, o Brit Milah será no domingo seguinte e não no Shabbat seguinte.
Encontramos diferentes interpretações para que seja realizado no oitavo dia: alguns rabinos acreditam que quando uma criança nasce, ela deve experimentar os 7 dias da criação do mundo e, portanto, seu Brit Milah ocorreria no oitavo dia após seu nascimento; outros acreditam que toda criança deve conhecer a “doçura” de um Shabbat. Existem algumas teorias médicas relativas à presença de maiores quantidades de coagulantes sanguíneos ao redor do oitavo dia do nascimento de uma criança, o que explicaria a rápida recuperação após a cirurgia, mas nenhuma delas foi cientificamente comprovada. Quando por razões médicas a criança não pode ser submetida à circuncisão, o Brit MIlah será adiado até a total recuperação do bebê.
A cerimônia do Brit Milah inclui 3 partes: Baruch Haba! a circuncisão, ato cirúrgico que é geralmente realizado por um mohel, treinado para este fim e o momento quando o bebê recebe seu nome em hebraico, quando são feitas as rezas e bençãos para ele e toda sua família. O mohel não é necessariamente um rabino. Atualmente, muitos mohalim são médicos, o que ajuda muito no desempenho do procedimento cirúrgico. A presença de um rabino não é indispensável, mas caso a família opte por ter seu rabino presente, ele é sempre muito bem-vindo.
Dois mil anos atrás, os judeus começaram a dar nomes a seus filhos não somente baseados em grandes figuras bíblicos, mas também para homenagear familiares que haviam morrido e que eles desejavam honrar, costume esse talvez adquirido das tradições egípcias ou gregas. Acreditava-se que ao morrer, a alma da pessoa ficava vagando pelo limbo até que seu nome fosse dado a uma criança recém-nascida. Só então sua alma poderia encontrar o descanso eterno. Isto faz parte da tradição asquenazi. O costume sefaradi, entretanto, é de se dar nomes de parentes e familiares vivos. o cero é que não existem regras claras pré-definidas quanto ao nome do bebê e cada família segue suas próprias tradições.
A cerimônia do Brit Milah encerra geralmente com a Seudat Mitzvah, uma refeição festiva (o que mais gostamos de fazer!). O Talmud diz que tão importante – é quase um mandamento – quanto a realização do Brit Milah é a sua comemoração festiva com uma refeição.
Duas (ou mais) pessoas são homenageadas durante o Brit Milah: são eles o padrinho e a madrinha. No passado, os padrinhos tinham a responsabilidade de criar a criança na tradição judaica, na eventualidade da ausência dos pais. Atualmente, é somente uma homenagem para os padrinhos que, estando presentes ao Brit Milah, vão conduzir o bebê ao recinto onde será realizada a cerimônia. Eles (os padrinhos) não precisam ser casados ou sequer serem aparentados um do outro e nem precisam ser judeus. A homenagem prestada a eles é somente cerimonial não havendo nenhuma responsabilidade legal.
Outro costume é incluir no local da cerimônia uma cadeira para o Profeta Eliahu. Eliahu, segundo a Torah, é o profeta que vai anunciar a chegada do Messias. Como qualquer criança judia pode ser o Messias, Eliahu deve estar sempre presente para não perder nenhum nascimento.
O Sandik ou Sandak, palavra de origem grega, vem de “suntekos” que significa “companheiro da criança”, não necessariamente a pessoa mais idosa da família, mas sim alguém que mantenha laços estreitos com o bebê seus familiares. O Sandik segura o bebê num determinado ponto da cerimônia, geralmente na hora da circuncisão propriamente dita. O minian (grupo de 10 judeus maiores de 13 anos) não é indispensável para a realização do Brit Milah, porém todos os presentes devem usar kippah.
Perguntas Frequentes
Onde pode ser realizado o Brit Milah?
O ato cirúrgico e a cerimônia religiosa poderão ser realizados em qualquer local que vocês escolherem: no quarto do bebê, na sala de sua casa, no playground do prédio ou em salão de festas.
Que roupas o bebê deve usar na cerimônia?
Não há nenhuma recomendação especial quanto ao tipo (macacão, camisola, body, calças) ou côr de roupas para o bebê. Para facilitar, é interessante que a parte de baixo da roupa possa ser aberta, com botões ou tic-tac.
Onde fica o bebê na hora do Brit Milah?
O bebê fica deitado sobre um travesseiro e este será colocado sobre uma mesa (veja o vídeo do Brit Milah no ítem cerimônia do menu, para mais detalhes).
E os pais e avós do bebê, onde estarão colocados?
Os pais do bebê ficam ao lado do mohel durante o Brit Milah. Se desejarem, os avós podem permanecer próximos (assim como todos os convidados), ao lado dos pais.
Quem leva o bebê para o local do Brit Milah?
Os pais do bebê escolhem uma (ou várias) madrinhas que após a preparação do bebê, o conduzem ao local escolhido para a cerimônia. A madrinha então entrega o bebê para o padrinho (ou padrinhos), que vão colocá-lo sobre o travesseiro.
Quem segura o bebê na hora do Brit Milah?
Os pais do bebê junto com a família escolhem uma pessoa que vai segurá-lo na hora do Brit Milah: esta pessoa (homem ou mulher) será o Sandik ou Sandak, palavra de origem grega, vem de “suntekos” que significa “companheiro da criança”, não necessariamente a pessoa mais idosa da família mas sim alguém que mantenha laços estreitos com o bebê seus familiares.
Em que dia deverá ser feito o Brit Milah do meu filho?
Deverá ser feito no oitavo dia de vida, exceto naqueles casos em que haja alguma doença e o procedimento passe a representar um risco para a saúde da criança. Neste caso, a Halachá nos isenta da obrigação de realizar o Brit no oitavo dia. Por exemplo: se a criança nasce em bom estado de saúde, mesmo que seu peso não atinja os 3 kg, em uma terça-feira, o Brit deverá ser feito na terça-feira seguinte. É importante lembrar que o nosso dia começa ao pôr-do-sol, portanto, se uma criança nasce numa quinta-feira à noite, geralmente após as 18:00h, o Brit deverá ser realizado na sexta-feira seguinte.
Se meu filho nascer no shabat, em que dia deve ser realizado o Brit?
A mitzvah do Brit Milah está acima de qualquer outra. Se uma criança nascer de parto normal no shabat, seu Brit não só poderá como deverá ser realizado no shabat seguinte. Se, por exemplo, o oitavo dia de vida cair no dia de Yom Kipur, o Brit deverá ocorrer neste dia. Não existem controvérsias entre os movimentos judaicos – Ortodoxo, Conservativo e Reformista – neste ponto.
Se o pai é judeu e a mãe não é judia, o Brit pode ser feito?
Esta é uma situação extremamente comum nos dias de hoje. De qualquer forma, o Brit pode ser realizado no oitavo dia de vida, mesmo neste caso. Neste caso, o Brit será o primeiro passo do processo de sua conversão. Aos trezes anos ele deverá, se assim o quiser, assumir sua identidade como judeu com um banho ritual (Mikvah) diante de um Bet Din (tribunal composto por pelo menos por um rabino e dois judeus observantes). É importante que o Mohel esclareça tudo isto aos pais. Fazer o Brit no oitavo dia de vida não irá, por si só, conferir o status de judeu a esta criança. É fundamental que seus pais estejam dispostos a dar uma educação judaica aos seus filhos.
De quem é a obrigação de realizar o Brit Milah?
De acordo com o Talmud, a mitzvah é do pai. Como normalmente o pai não possui conhecimentos técnicos necessários para realizá-lo, um Mohel pode ser chamado. De fato, a maioria dos Mohalim ortodoxos e conservativos no momento da cerimônia do Brit, pedem aos pais que declarem publicamente que desejam que o Mohel realize aquela cerimônia, estabelecendo assim um link com esta Halachá.
O que é o Mohel?
Mohel é a pessoa devidamente capacitada para realizar um Brit Milah. Qualquer judeu pode tornar-se um mohel. Durante séculos, os conhecimentos e a técnica para a realização do Brit Milah passaram de pai para filho. Os Movimentos Reformista e Conservativo só conferem o título de Mohel a médicos legalmente habilitados. No entendimento destes Movimentos, além dos aspectos religiosos envolvidos no Brit Milah, que exigem do Mohel uma profunda ligação espiritual, existe também um ato médico, com todas as suas implicações legais. No Brasil existe um parecer do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, de 1987, que determina: “A circuncisão é ato médico e como tal é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, não devendo ser praticado por outro profissional que não é médico.”
Existem bebês que nascem já circuncidados?
Na realidade, existem bebês que nascem com um tipo de malformação congênita chamada de hipospádia, que leva a pensar que “a criança nasceu circuncidada”. Nestes casos a pele que existe ao redor da glande (prepúcio) não deve ser retirada, pois posteriormente ela poderá ser usada para o tratamento deste problema. É então realizada uma cerimônia chamada “Hatafat Dam Brit”, na qual retira-se uma gota de sangue da pele do prepúcio com uma pequena agulha (semelhante a uma agulha de vacina) e prossegue-se com a parte litúrgica do Brit. O “Hatafat Dam Brit” também deve ser realizado no oitavo dia após o nascimento do bebê.
E o padrinho e a madrinha, que papel desempenham na cerimônia do Brit Milah? Eles precisam ser judeus?
Existem três figuras com este significado dentro da cerimônia do Bris. Kvater e Kvatrin: padrinho e madrinha, são as pessoas que levam a criança até o Mohel. Não é necessário serem judeus, e este número (um padrinho e uma madrinha) não é fixo. Podem ser dois homens e duas mulheres, três homens e uma mulher, três mulheres, …, a escolha é de cada família. Sandak (síndico em grego): é aquele que irá segurar a criança enquanto o mohel estiver fazendo o Brit.
É exigido que o Sandak seja judeu e que esteja usando um tallit durante a cerimônia. O papel de padrinhos no judaísmo não tem a mesma conotação de outras religiões, onde em caso de morte dos pais, os padrinhos passariam a ser os responsáveis pela criança. No judaísmo é somente uma homenagem.
A anestesia é permitida pelas leis judaicas?
Este é um ponto que não deveria provocar nenhum tipo de controvérsia entre os movimentos judaicos. A anestesia já era conhecida na época do Talmud, mas nossos sábios não fizeram declarações nem proibindo nem encorajando-a. Com este silêncio, muitas discussões ocorreram e ocorrem até nossa geração.
A grande polêmica é a necessidade ou não da criança sentir dor durante o Brit. Alguns rabinos se opõem justificando que Avraham Avinu sentiu dor. Este ponto de vista é severamente criticado por muitos outros rabinos. Segundo o Rabino Ovadiah Yosef: “não existe nenhuma obrigação de haver dor durante a circuncisão”. O Comittee on Jewish Law and Standards, do Movimento Conservativo, emitiu uma resposta, concluindo que é permitido o uso de anestesia durante o prcedimento do Brit Milah, deixando à critério do Mohel o tipo de anestesia a ser usada, de acordo com as necessidades de cada caso.
Pesquisas americanas recentes demonstraram que, baseando-se nos batimentos cardíacos e na intensidade do choro como indicadores de desconforto e dor, o uso da anestesia resulta num ato mais tranquilo e menos doloroso para a criança.
Existe alguma vantagem médica em se fazer a circuncisão?
Sabe-se que nos primeiros meses de vida as infecções urinárias são muito comuns em meninos. Meninos não circuncidados tem até 15 vezes mais chances de desenvolver infecções do trato urinário. Sabe-se também que quase 30% dos homens que não foram circuncidados quando recém-nascidos, em determinado estágio da vida, precisam submeter-se a uma cirurgia de fimose (postectomia). É importante lembrar, que neste caso, já não é possível um procedimento tão simples quanto ao que se faz em recém-nascidos (a cirurgia deve ser feita num hospital, com pontos de sutura, … – os recém-nascidos não levam pontos!!! Além disso, mulheres casadas com homens circuncidados têm incidência muito inferior de câncer de colo de útero e os homens circuncidados não apresentam câncer de pênis.
Existe algum ponto negativo em realizar o Brit Milah, como perda de sensibilidade ou irritação peniana?
Não, a circuncisão não acarreta nenhum tipo de malefício à saúde. Se forem respeitados os critérios, ou seja, se a criança nascer com saúde, e o profissional que realizar o procedimento for capacitado, a circuncisão é um procedimento extremamente seguro, simples e benéfico para a criança.
O que se faz com o prepúcio (pele que recobre a glande e que é retirada no momento da circuncisão) após a circuncisão?
Existe o costume de se “enterrar” o prepúcio retirado na circuncisão num vaso de plantas ou num jardim, para que o bebê tenha uma vida fértil.
Entretanto, atualmente, com os avanços tecnológicos disponíveis, a cultura de células-tronco adultas já é possível, utilizando-se células retiradas deste prepúcio. E o que é exatamente célula-tronco? Para que cultivar e guardá-las?
Algumas células têm a capacidade de se multiplicar e gerar diversos tipos de outras células diferentes e são chamadas de células-tronco. Elas têm o poder de se transformar em células de pele, fibras musculares, coração, ossos, cartilagem, gordura e vasos sanguíneos (artérias e veias). Estas células podem ser utilizadas para reparar ossos, melhorar a circulação sanguínea ou reparar a pele (em casos de queimaduras, por exemplo).
E por que guardar células? Já está comprovado que é possível guardar células por longos períodos, mantendo-se a idade destas células da época do congelamento. Quanto mais jovens as células usadas em tratamentos (procedimentos para cicatrização, reparo de lesões por trauma ou processos degenerativos), maiores as chances de sucesso. Existe um laboratório especializado em cultivar e guardar estas células. Se você tem interesse, visite o site www.excellion.com.br e peça mais informações.
E fotografias e filmes, podem ser feitos durante o Brit Milah?
Sem dúvida. Fotos e vídeos são bem vindos.